quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Encontro com o escritor recebe o autor Carlos Barbosa

“... Tenho dúvidas/ como dividas interna/ adoro a possibilidade/ de eu não dar certo...”.

Poemas, romances, histórias e minicontos fizeram parte da tarde da última quinta-feira (21) no Encontro com o Escritor, ministrado pelo escritor e jornalista Carlos Barbosa. O bate-papo aconteceu na Biblioteca Pública Thales de Azevedo (Costa Azul) com a presença de alunos do ensino médio do Colégio Público Thales de Azevedo. O projeto acontece uma vez por mês, toda quinta-feira em cada Biblioteca Pública e tem como objetivo levar escritores a estes espaços para interagir com os leitores, no sentido de incentivá-los no caminho do conhecimento, através da leitura crítica.
O escritor Carlos Barbosa começou sua apresentação confessando que só veio publicar seu primeiro poema Água de Cacimba, em 1998, mesmo tendo escrito ele em 1976, quando tinha 13 anos. O autor argumenta que nunca teve a intenção de ser um escritor, mas por ter se aposentado por problemas de saúde ficou com mais tempo para se entregar a arte. “No livro Água de Cacimba eu usei meu nome completo, erro de todo iniciante, mas minha intenção nunca foi ser escritor”, frisou o palestrante. Segundo Barbosa, a produção de seu primeiro livro feita por ele contou com muita dificuldade para finalizá-lo, foi a partir daí que o escritor começou a construir um portfólio para concorrer em editais e projetos.
O palestrante explicou o nome do seu livro Água de Cacimba: “é a água que se colhe com muita dificuldade e muita delicadeza, por isso escolhi esse tema”, explicou o escritor. Para Barbosa, é preciso sentir o que se quer registrar para ter habilidade no texto e enfatiza, “quem gosta de escrever e dizer ao outro aquilo que sente, começa a fazer isso desde muito cedo”. O autor argumenta que para conseguir uma boa escrita é necessário ter conhecimento sobre o assunto que pretende abordar e daí apresentar um tema, desenvolver a história e concluir. “Esse conceito não é apenas para redação como também para qualquer outra composição textual. Quem acompanha novela, vê que cada capítulo é um livro”, diz.
Com o público presente era composto, em sua maioria, por alunos do Colégio Thales de Azevedo na faixa etária de 14 a 16 anos, Barbosa descontraiu a garotada, ao falar sobre o livro A dama do Velho Chico. “Ao ler esse livro o leitor aprende a cortejar uma garota, então meninos, não percam tempo. Me perguntem aí quantas minas eu namorei?”, brincou o autor, em meio as gargalhadas dos alunos. A estudante Jéssica Barbosa destacou a importância de conhecer os autores pessoalmente, “é interessante conhecer um escritor ao vivo, pois assim a gente pode saber como ele faz para construir todas essas histórias”.
Carlos Barbosa publicou até agora Quatro livros: Água de cacimba, livro de poemas, Matalotagem e outros poemas da viagem, o romance A dama do Velho Chico e Beira de Rio, Correnteza. O contexto das tramas tem em todo um caráter de protesto muito forte em relação ao abandono, a transposição, a corrupção política, dentre outros fatores sociais que envolvem o Rio São Francisco. Os próximos romances do autor continuam com outras afirmações sobre a história e a existência do velho Chico, “a serpente do Jardim de Sombras é um nome provisório, mas já sei qual será a narrativa do meu próximo trabalho. Estou pensando em fazer uma trilogia”, conclui.
O próximo Encontro com o Escritor será na Biblioteca Juracy Magalhães Junior em Itaparica com a conferência de Edla Angelim no dia 19 de novembro, às 14h. O evento é promovido pela Fundação Pedro Calmon/Secult.

domingo, 24 de outubro de 2010

A penúltima aula do Curso “Conversando com a sua História” desta terça (19) recebeu o jornalista Sérgio Matos que falou sobre os 60 anos de desenvolvimento da televisão brasileira.


        A influência do Estado sobre a programação e produção de conteúdo da televisão brasileira foi um dos destaques da penúltima aula do curso “Conversando com a sua História”, ministrada pelo jornalista Sérgio Matos. A palestra que aconteceu na última terça-feira (19), no auditório da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Barris), reuniu dezenas de estudantes, pesquisadores e professores que estavam interessados em saber sobre o processo de desenvolvimento da indústria televisiva nos últimos 60 anos.
        O tema abordado por Matos foram os 60 anos da televisão brasileira nos aspectos políticos, culturais e econômicos do país, dentre eles, a influência exercida pelo Estado ao “exercer um forte controle sobre a indústria cultural brasileira”. De acordo com o palestrante, essa vigilância era “devido à dependência dos veículos de massa em relação às informações oficiais”.
        Segundo o jornalista, a televisão brasileira no início tinha enormes dificuldades para as realizações dos programas e novelas, devido aos suportes técnicos precários. “A televisão brasileira foi inaugurada oficialmente no dia 18 de setembro de 1950, em estúdios precariamente instalados em São Paulo, graças ao pioneirismo de Assis Chateaubriand”, destaca. Mattos sinalizou que muitas vezes, devido ao atraso do videotape, as novelas tinham que repetir a cena do dia anterior, “eram repetidas duas, três ou mais vezes as novelas porque o videotape ainda não tinha chegado”, disse.
       Este fato foi confirmado pela estudante de história Geraldina de Araújo (60), que acompanhou a fase do surgimento da TV, “quando repetiam o capítulo da novela eu dizia muito obrigada Senhor, muitas vezes, porque ainda não tinha assistido o que capítulo que se repetia”, descontraiu, em meio aos risos dos presentes.
       Logo nas primeiras fases da TV somente pessoas com portes econômicos consideráveis tinha um aparelho em casa, como afirma Matos, “a fase elitista (1950-1964) foi o momento em que o televisor era considerado um luxo ao qual apenas a elite tinha acesso”. A televisão teve diversas etapas como é o caso da fase populista – momento em que a modernização abrange a todos – e a fase de crescimento tecnológico. “Na fase tecnológica as redes de TV se aperfeiçoaram e começaram a produzir, com profissionalismo, os seus próprios programas com o estímulo de órgãos oficiais, visando à exportação”, explica o jornalista.
       O professor argumentou sobre as duas primeiras décadas da TV, quando os programas eram identificados pelo nome do patrocinador: “em 1952, e por vários anos subsequentes, os telejornais tinham denominações como ‘Gincana Kibon’, ‘Sabatina Maisena’, ‘Teatrinho Trol’, ‘Repórter Esso’, ‘Telejornal Bendix’, ‘Reportagem Ducal’ ou ‘Telejornal Pirelli’”. Segundo Mattos, o grupo mais importante de anunciantes foi formado pelas empresas Multinacionais, mas no Brasil, ao longo da história da televisão, o governo se tornou o maior anunciante individual, nos níveis federal, estadual e municipal. “O governo brasileiro sempre esteve entre os maiores anunciantes do país, em conseqüência, aumentando sua influência sobre os veículos”, destacou.
       O debate seguiu com diversos aspectos sobre a TV e suas fases de desenvolvimento, como o Repórter Esso, na rede Record, o primeiro telejornal antes do surgimento da Rede Globo de Televisão, que trouxe a dominação técnica e financeira oriunda da época do golpe militar. Para concluir, o palestrante destacou a importância da criação de novos mecanismos de regulação. “Atualmente, em decorrência do avanço da convergência entre as mídias, é necessário o estabelecimento de novas regras e de um novo marco regulatório, pois os agentes envolvidos no processo hoje (telecomunicações e radiodifusão) são regidos por legislações distintas”, sinalizou.
       A última aula do Curso “Conversando com a sua História” debaterá, na próxima terça-feira (26), o tema “A companhia Baiana de navegação a Vapor (1839-1894)”, com o professor Marcos Guedes Vaz Sampaio. A realização do curso é da Fundação Pedro Calmon – FPC/Secult, através do Centro de Memória.